Os dados sobre morte de pessoas transexuais e travestis no Brasil revelam uma realidade ignorada por muitos.
O Brasil é o país onde mais se assassinam transexuais e travestis no mundo. Nos últimos 6 anos, cerca de 600 mortes foram registradas, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Entre o mês de janeiro de 2008 e abril de 2013, foram registradas 486 mortes, quatro vezes a mais que no México, que é o segundo país com mais casos registrados.
Esses dados configuram uma ironia, já que o Brasil também é o país onde mais se consome pornografia envolvendo pessoas da sigla T (transexuais e travestis). Em 2016, o número de pessoas assassinadas no Brasil por serem LGBT bateu recorde, dos 343 assassinatos registrados em 2016, 173 das vítimas eram homens gays (50%), 144 (42%) trans (travestis e transexuais), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais (1%).
No Tocantins, mesmo a passos tímidos, algumas conquistas foram alcançadas no âmbito de políticas públicas direcionadas à pessoas ”T”. Entre elas, a inclusão do nome social das pessoas travestis e transexuais nos registros e documentos escolares em 2010; A regulamentação do nome social na UFT (Universidade Federal do Tocantins), em 2015, que garante o direito dessas pessoas para que possam registrar o nome social em diários de classe, cadastros, fichas, formulários, listas de presença, divulgação de notas, etc., e o município de Palmas, que foi a primeira cidade do Tocantins a pactuar o reconhecimento do nome social de pacientes LGBT em todos os seus serviços de saúde .
Assumir-se LGBT é um grande passo para os jovens que pertencem a essa sigla mas, dentre eles, as pessoas trans são as mais marginalizadas pelas sociedade. A falta de informação e os estereótipos que estão ligadas a essa população são um alicerce que facilitam a violência nos mais variados âmbitos, por mais básicos que sejam: na conquista de um trabalho, no sistema de saúde, no sistema de educação.
“É necessário passar pra frente experiências”
O que é ser um jovem trans?
Irving Santos é um jovem morador de Palmas, estudante da UFT, homem trans de 20 anos e relata violências cotidianas que costuma enfrentar: ”Odeio ir na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) porque quando tu é chamado, aparece naquele telão enorme o nome civil, cara, tipo, é muito ruim. No SABIN é mais de boa, também porque a gente pede e eles chamam o nome social na hora de tirar o sangue”.
Há também os curiosos: ”Tem muitas pessoas trans (na verdade, a maioria) que se sentem muito invadidas com alguns questionamentos de pessoas curiosas, mas eu costumo responder todas, porque ninguém nasce sabendo e tirar essas dúvidas das pessoas melhora muita coisa. Esses curiosos passam pra frente pros outros amigos curiosos que também passam pra frente e, dependendo da pessoa, muda a forma como vê, como trata, o que deve perguntar e o que não deve pra uma pessoa trans.”
A informação é essencial
A informação é um aliado importante para acabar com o preconceito, uma vez que a mídia tradicional ainda está se acostumando a tratar dessas pautas. É preciso, um preparo dos profissionais da mídia para que não firam a dignidade e a identidade das pessoas T.
O apoio cotidiano e ter pessoas parecidas com você para se espelhar também é uma forma de lidar com o preconceito: ”Como um conselho para um jovem trans, eu diria: não comece sozinho. Peça ajuda de outra pessoa trans que conheça algum grupo ou algo assim. A melhor coisa da vida é ter um mentor que te ajude a segurar as pontas com transfobia e com coisas que você não faz ideia que existem. Pra gente, as informações estão só na internet, google e alguém que já passou por isso e te fale. Se você não for atrás de informação, ela não chega até você NUNCA, por nenhum tipo de veículo de informação. E a parte da Hormonização, vou frisar, não faça sozinho. Você pensa que está tranquilo com seu corpo, que até hoje aquelas 30 injeções que você tomou nunca deram nada já que não sente nada de ruim, mas não faz ideia do que esteja acontecendo no seu sangue e nos seus órgãos. É difícil achar endócrino aqui em Palmas, mais difícil ainda de graça, mas acha. Se não fosse meu médico vendo meus exames de sangue hoje eu provavelmente estaria numa UTI. É necessário passar pra frente experiências”, disse.
Por: Juliana Saraiva, Lísia Fernanda, Ana Lídia
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