Luta pelas mulheres

Comunidade

Símbolo de resistência e luta pelo direito das mulheres, a Casa 8 de Março sobrevive em meio incertezas.

O Tocantins está há quatro anos ocupando o segundo lugar no índice nacional de violência contra a mulher. Em 2015, Palmas foi a capital da região Norte que ocupou o primeiro lugar, segundo o Ministério da Justiça. A importância de se dar voz às mulheres está presente não só quando há vítimas de qualquer tipo de violência, mas também quando elas e toda a sociedade são proibidas de pensar sobre o assunto, como propõe a  Lei municipal n° 2.246 que veta a discussão de gênero nas escolas municipais desde de março de 2016.

A discussão sobre violência contra a mulher faz parte da construção de gênero, masculino e feminino, e faz parte, também, da construção cultural da sociedade. Para a advogada e Presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB do estado, Karoline Soares Chaves: “Os estudos de gêneros no Brasil surgiram na segunda onda do feminismo, e tem muito mais haver com as questões das mulheres, às políticas públicas voltadas para elas do que qualquer outra coisa”. E tudo isso é um reflexo de lugares como a ONG Casa 8 de Março, pioneira no estado em defesa do direito das mulheres.

A organização foi fundada com intuito de ajudar no atendimento das necessidades femininas, principalmente as que estão em situação de prostituição, com trabalhos de prevenção da saúde, oficinas de capacitação, palestras e manifestações em prol de seus direitos. Em 1999 a instituição conseguiu se estabelecer em um único local na quadra 305 Norte, de forma precária, e permanece no mesmo até o hoje.

A história de luta da organização começou muito antes da lei Maria da Penha surgir, quando o feminicídio não era nem cotado como dado estatístico e a primeira Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM) no Tocantins só surgiria anos depois, mas ações como Articulação das Mulheres Tocantinenses (ATM), onde diversas entidades começaram a se juntar para dar maior visibilidade ao problema, já buscava ajudar mulheres em situação de risco. A professora do curso de Jornalismo da UFT, Cynthia Mara Miranda, Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília ressaltou: “A casa é de grande importância aqui no Tocantins. É a primeira ONG feminista criada e que, desde então, tem lutado para efetivar o direito das mulheres, principalmente daquelas em situação de vulnerabilidade.” Cynthia ainda completa que o local “tem um papel político muito importante na garantia dos direitos das mulheres do Tocantins”.

Em 2012 após a veiculação de um comercial das Lojas Marisa (imagem destaque), em que  a mulher perfeita  deveria ser magra (https://www.youtube.com/watch?v=3iKNi8CSIEk), diversos protestos foram organizados no país por grupos feministas, em favor do direito ao próprio corpo. Em Palmas, a Casa 8 de Março promoveu um protesto pacífico em frente a loja em um dos shoppings da capital. Na época juntamente com a manifestação, Bernadete Ferreira, da Casa criou uma petição online solicitação que a rede de lojas criasse um comercial em mulheres de todos os corpos e cores fossem representadas.

Completando 19 anos de existência neste ano, o local enfrenta muitos problemas e já contou com doações e a ação de voluntários para manter as portas abertas, dando continuidade ao seu trabalho social. Entretanto hoje a ONG não possui estrutura nem mesmo para atender um telefonema, contando exclusivamente com uma página nas redes sociais para divulgar-se e realizando o trabalho de acolhida e conscientização.

ntervenção realizada para conscientização realizada em feira na região norte de Palmas (Créditos: Pedro Ferreira)
Intervenção realizada para conscientização realizada em feira na região norte de Palmas                   (Créditos: Pedro Ferreira)

 

Por: Kamilla Gonçalves

Foto Destaque: Pedro Ferreira

 

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