Curso de jornalismo completa 21 anos na Universidade Federal do Tocantins

Universidade

Durante esse período mais de 600 alunos se formaram e vários deles estão no mercado de trabalho fazendo a diferença

 

Por Paulo Teodoro

Edição: Sabrina Carneiro

 

No dia 18 de outubro de 2017, o curso de Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT) completou 21 anos de sua criação, autorizada pelo decreto n° 332/96, do Governo do Estado do Tocantins. Atualmente, denominado Jornalismo, o curso começou como bacharelado em Comunicação Social, ainda na Universidade do Tocantins (Unitins), e em meio a tantas dificuldades e lutas, até o presente momento, formou 604 novos jornalistas no estado.

Desde o começo, o curso sempre enfrentou dificuldades financeiras e, consequentemente, estruturais. O professor Fábio D’abadia ingressou no curso em 2000, foi um dos primeiros docentes e relata que naquele momento havia uma preparação para a formatura da primeira turma, que ocorreria em 2001, e para o reconhecimento do curso pelo Conselho Estadual de Educação. “Eu fui o primeiro jornalista com mestrado do curso, então, eu assumi a coordenação e fiz tudo: coordenei todo processo burocrático, atualização do plano pedagógico, organização de laboratórios e professores com suas respectivas formações para que o curso pudesse ser reconhecido e que a primeira turma pudesse formar e ter o seu diploma válido”, afirma D’abadia.

Em 2003, por um acordo entre os governos estadual e federal, o curso foi transferido para a recém-criada UFT. Por ser uma nova instituição, o curso ainda estava se estruturando e, além das salas de aula, contava apenas com um laboratório de editoração eletrônica para produção e diagramação de jornais, um laboratório de fotografia e o laboratório de rádio, todos com poucos equipamentos e, muitas deles bastante defasados.

Um dos alunos nesse período foi Sidney Neto, atual apresentador e editor-chefe do Jornal Anhanguera 1ª Edição, telejornal de maior audiência do estado. Ele, que se formou em 2006, lembra que o curso de Jornalismo já funcionava no Bloco A, e que só não havia laboratório de telejornalismo. “O professor conseguiu uma única câmera e a gente tinha que revezar. Fizemos um calendário para conseguir produzir as reportagens”, ressalta.

Sidney Neto se formou na UFT e é âncora desde 2010. (Foto: Letícia Queiroz)

Outro destaque de jornalista bem sucedida formada pelo curso é a professora e atual coordenadora (2017-2019) Alice Agnes. Ela destaca que a ausência de materiais pedagógicos não foi empecilho para um período de muito aprendizado. “[…] quando eu comecei a cursar a universidade era um período de muitas limitações. Minha turma não teve laboratório de edição de vídeo, teve algumas restrições nesse sentido, mas também foi um período de muito esforço”, afirma Alice.

Os primeiros alunos de Jornalismo, como o professor Fábio ressalta, eram considerados rebeldes, mas foram parte importante nas conquistas obtidas. Pelo curso passaram alunos de vários estilos, de vários lugares, de várias personalidades, mas que deixaram suas marcas, mesmo que discretas. Todos em busca de um objetivo ou, talvez, de alguma orientação para onde seguir.

O jornalista Élcio Mendes, que já foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Tocantins (Sindjor), diretor de comunicação da Setas (Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social) e também da Defensoria Pública, foi um desses tantos alunos que passaram pela UFT. “O curso abriu todas as portas, se não fosse a formação superior não teria conseguido ingressar na profissão. Apesar do forte apelo patronal pela precariedade da profissão, as empresas exigem a formação para a contratação. Por incrível que pareça, a formação nos dá mais segurança no dia a dia e também um respeito maior dos contratantes e dos colegas de profissão”, afirma o jornalista, que garante que esse período foi essencial na sua vida.

Em 2013, reivindicando uma identidade própria para o espaço que era muito mais do que um ambiente acadêmico, os alunos, liderados pelo Centro Acadêmico Calangos, fizeram o movimento Caleidoscópio e produziram uma verdadeira obra de arte no bloco A, com pinturas, desenhos, grafites e frases que representassem a diversidade que comportava o curso. Alguns anos depois, no início de 2016, ainda no ano letivo de 2015/2, ocorre a mudança do Plano Pedagógico de Curso (PPC) e o bacharelado em Comunicação Social se torna, exclusivamente, Jornalismo, agora com foco total de formação de profissionais jornalistas, trabalhando com assuntos de interesse público em diversas mídias.

Muita coisa mudou no curso de Jornalismo nesses 21 anos, da estrutura física ao corpo docente. No começo, muitos professores eram de fora ou nem tinham formação em jornalismo, e menos ainda conhecimento da realidade da profissão. Assim como alunos, muitos professores, de diferentes formações, passaram pelo curso, e muitas histórias inusitadas surgiram nessa época, como afirma o professor Fábio D’abadia, “alguns professores viraram uma espécie de lenda urbana do curso, eles chegaram para cá, aí levavam os alunos para o pátio para abraçar as árvores”. Atualmente, é um dos poucos cursos da UFT com mais de 80% dos professores com título de doutorado e mais de 90% com dedicação exclusiva.

Caleidoscópio II é resultado de uma luta de mais de 7 anos (Foto: Lukas Ramos)

Por muito tempo os laboratórios de Jornalismo (Redação, Fotografia, Rádio) ficaram concentrados no Bloco I. No final de agosto, o curso inaugurou o tão esperado Complexo Laboratorial de Jornalismo, que foi nomeado “Caleidoscópio II”, em uma votação realizada entre os alunos. Fruto de uma luta de mais de 14 anos, o complexo conta com laboratório de redação equipado com 30 computadores, laboratório de rádio, de TV, fotografia e mini auditório.

Diploma

A não exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão é uma das grandes discussões do curso. Afinal, é importante mesmo concluir um curso para exercer uma profissão que não exige diploma? Os professores Fábio D’abadia e Alice Agnes garantem que sim. Para Fábio, a faculdade é um momento de desenvolvimento, empoderamento e enriquecimento que forma não só bons profissionais, mas também bons cidadãos.

Segundo a coordenadora Alice Agnes, independente do ritmo de mudança do mundo, das tecnologias e modo de fazer jornalismo, os valores não mudam. “Essa é a grande batalha da academia: acompanhar os aspectos tecnológicos, práticos e técnicos, que são muito rápidos, e ao mesmo tempo reforçar aquilo que é clássico em relação à ética, em relação à postura profissional do jornalismo, porque esses valores, podem passar anos, o futuro pode chegar com toda tecnologia, mas eles permanecem”, pontua.

Presente X Futuro

O corpo discente de Jornalismo é formado por 407 alunos, sendo 357 alunos da grade atual e 50 da grade antiga. A avaliação mais recente do curso é de 3 pontos em uma escala que vai até 5, considerando as notas do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) do ano de 2015. A inauguração do complexo laboratorial não acabou com as muitas limitações do curso, que enfrenta ainda problemas financeiros em virtude dos recentes cortes de verbas das universidades federais.

Outro problema ainda mais grave é a reclamação de alunos sobre o excesso de cobrança, ausência de auxílio por parte dos professores e prazos curtos. Esses fatores unidos têm gerado recorrentes casos de alunos com problemas de saúde mental, problema esse que deveria ser prioridade dentro da instituição, que dificulta o atendimento por conta da burocracia e que não possui uma quantidade necessária de profissionais para atendimento de todo o campus. Por conta disso, o colegiado de Jornalismo tem prometido se reunir para discutir a situação e buscar soluções.

Mesmo com tantos problemas, ainda há esperança. O professor Fábio percebe que a tendência do curso é melhorar sempre e continuar formando jornalistas para outros estados também. A coordenadora Alice acredita no potencial do curso e no desenvolvimento de uma identidade jornalística local e regional: “Meu sonho é que os jornalistas formados pela UFT façam a diferença, principalmente aqui na região Norte em relação às pautas ambientais, em relação à preservação da Amazônia, em relação à postura ética e que comecem também a desmistificar essa coisa periférica e subalterna de uma região norte inferiorizada, porque não é”.

Ela ainda dá um recado para os futuros jornalistas. “É a profissão mais linda, relevante, significante e árdua que existe. Não desanimem. Jornalismo é vocação também, não é sobre remuneração, creio, mas vale a pena, porque é lutar todos os dias em nome da verdade, lutar por um mundo melhor”, destaca. O apresentador Sidney Neto também aconselha os estudantes, e pede para que valorizem o tempo enquanto estão na universidade, que aproveitem todos os laboratórios e todas as disciplinas, porque é esse conhecimento que será exigido pelo mercado.

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